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Perdi a verdade, ganhei o sentimento, odeio a minha vida neste momento. Odeio os meus dias, odeios as horas, odeio os outros, odeio todos.
Odeio não saber o que te está a magoar e odeio mais que os outros o saibam no meu lugar.
Odeio os gritos e odeio a raiva.
Odeio o que sou, , odeio o que está dentro de mim.
Por agora estou morto, por agora morri.
Odeio os meus medos, odeio a dúvida, puta da dúvida como te odeio.
A cidade sabe os segredos de toda a gente. Sabe dos meus, dos teus, dos deles, daqueles, dos outros e aqueloutros, dos desta e daquela. Sabe de mim e de ti. Sabe do passado e do presente, do que foi e do que está para vir.
Conhece todas as músicas, sabe todas as canções, sabe todas as cores, sabe de todos os rumores, não exerce funções.
A cidade faz o que quer. A cidade não apela. A cidade esconde. A cidade revela.
A cidade tem pressa de fugir, tem pressa em não estar, tem medo e não quer ficar.
A cidade pede barulho, pede caos e pede fumo. Pede embriaguez, acidez, estupidez e pede tudo menos lucidez.
A cidade quer movimento, ruido e agitação, quer-te a ti na mão, quer luxúria e paixão.
A cidade quer palavras ditas ao ouvido, quer também ouvi-las num grito. Quer a poluição sonora, quer os segundos, os minutos e a hora.
Quer luz e sombra, quer água e fogo, quer frio e quente...
A cidade foge e consigo arrasta toda a gente.
Encontrei-te sozinha, perdida na minha rua nas horas escuras da madrugada com um olhar vazio e um andar cansado.
"O que fazes aqui? O que se passa? O que tens?" Pergunto-te na surpresa de te voltar a ver.
"Estou exausta, queria falar contigo, tenho uma coisa para te dizer...".
Acordo e não queria.
Lanças a bomba, o caos e o espanto.
Foges.
Eu fico com os estilhaços.
Estou cego de raiva, angustiado, furioso.
As horas acumulam a ansiedade e o desespero obriga-me a cair no ridiculo, a deixar de ser quem sou, a revelar o monstro que mantenho enjaulado.
Jogo de silêncio, como te odeio e desprezo.
Escrevo-te hoje como alguém que se encontra um pouco perdido entre o silêncio que há em mim e o grito de lamento que me rodeia. A lirica embala as notas musicais, esta chega-me aos ouvidos e fala directamente para mim. Fala-me de ti, do que é e do que foi, do que poderia ser e do que nunca será, na repetição de sempre... no alinhamento da mesma história.
Hoje quis esta solidão, persegue-me há já algumas horas. Está presente no primeiro pensamento do dia, embala-me durante as horas seguintes e adormece comigo na ponte entre o sono e o não querer dormir.
Quero dizer o que não devo, sem medo do que possa vir, porque o que me persegue é tão negro, que no escuro, só encontro o vazio.
Talvez hoje não adormeça de novo, num lugar sem histórias das que se vivem a dormir. Nada se passou e de pouco me consigo lembrar.
Agora tão tarde e com o sono desperto, voltam as minhas horas de letras nas conversas. Não estou sozinho e a companhia conforta-me enquanto se trocam os mesmos pontos nos is.
Vou para dentro que me apertam os ossos, com as mãos na barriga, que cavaram os fossos.
Frio não tenho, mas não gosto de estar do lado de fora, sem nada, exposto e volúvel, inconstante e variável.
Dá-me algum medo de tropeçar nas ideias e é então que deixo a métrica e prefiro o discurso directo da linha gramatical, redonda e sem sentido, num diálogo mundano sobre o dia.
Vou para dentro, amanhã talvez cá estejas de novo.
É já noite.
Marco encontro comigo à hora da escrita, no momento das letras.
Tento sempre ir ao seu encontro, naquele momento onde o pensamento troca de turno e aparece-me aqui, em contra-mão com a acção e a pressa das horas, do dia que já vai longo e que se deita a meu lado.
Fecho os olhos e não durmo, encosto a cabeça ao chão e fico atento.
É agora. É agora que vem tudo. É agora que recordo o todos os minutos que se atropelam por um pouco mais do protagonismo que proporcionaram. Do que se disse e ficou por dizer. Do que se fez e devia ter feito.
Neste momento a razão toma parte.
Vou dormir e dar lugar ao sonho para espreitar o outro lado.
Não penses mais e agora foge. Deixa que eu te leve e liberta tudo. Estravaza, voa, corre e luta, que enquanto dormes eu tomo conta de ti.
O sonho falou e a razão adormeceu.
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